MY TRASH TRASH ME!!!
Tarde de chuva brindada de beleza, que me hipnotizou em frente à janela no meio de palavras contagiantes, acompanhadas ao som líquido de gotas ritmadas… Re-use… Ping! Re-cycle… Ping! Up-cycle… Ping! Ping! Down-cycle… Ping! Tarde de chuva, que me deu um tesouro: a vontade de fazer mais pelo mundo, por mim, por nós… A reciclagem não seria o mote de uma linha, seria uma filosofia, teria o papel principal no palco da minha vida. O desafio era grande. As bolas de papel amarrotadas à minha volta foram aumentando, rodeando-me de desenhos rabiscados, desafiando-me a olha-los de outra forma. O meu lixo iria experimentar-se, iria revelar-se e dar forma aos corpos das minhas novas personagens. “Let our trash get a live! The show must begin!” Rascunhos saltaram do chão, fechos e botões saltaram das gavetas, desperdícios de fios, amostras de peles e tecidos uniram-se e, num tornado mágico, envolveram o busto de diversas formas até a colecção terminar. O lixo do meu trabalho tinha sido a ferramenta principal para criar. Por entre sacos e sacos de tecidos, retalhos sorriam para mim pedindo para fazerem parte do festival cromático que iria cobrir as minhas personagens transparentes. Tiras de várias cores e materiais rodearam e enrolaram o aparente vazio, dando forma a “Mummy Dolls”.
A etnia tinha abraçado o romantismo com a mistura de rendas e outros materiais em formas geométricas, que rodeavam as curvas do corpo como músculos de pano. Em certas zonas, as composições ganhavam volume e realçavam faces e bonecas de pano adormecidas pelo tempo e pelo esquecimento. De repente, as gavetas abriram e explodiram fechos coloridos num fogo de artifício. Uma imensidão de fechos alinhados e de vários tamanhos invadiu calças de denim e outros quantos uniram-se construindo corpetes, saias e cintos. Amostras de peles foram meticulosamente separadas por tons e depois recortadas em pequenos triângulos de tamanho diferente, encaixados matematicamente no corpo, um a um. As peças formaram “patchworks” de assimetrias geométricas, construindo lenços, cintos e tops. Vestidos, saias e blusões intercalaram os triângulos de peles com veludo plástico rosa e cinzento. Gabardinas dupla face são avivadas com restos de fitas de vários tamanhos em azuis, rosas e roxos metálicos, colorindo geometricamente bainhas e golas. Botões cintilam em tons diferente, dispostos com ritmo nas frentes assertoadas e punhos. Sobras de franjas serpenteiam golas e carapuços, quebrando com o negro e a prata das bases.
Desperdícios de fios de vários tipos de lã formam malhas com riscas de várias texturas e tonalidades, criando casacos, camisolas, lenços e outros acessórios vanguarda. Pontos de malha fluorescente rematam as bainhas de rolo, assim como cós em aglomerados de diferentes tamanhos e cores. Entrançados diferentes de mistos de fios compõem golas volumosas. Num canto esquecido, estava um saco transparente com restos de franjas…. Talvez me tivesse esquecido de levar para o lixo? Pedaço aqui, pedaço acolá, formei padrões geométricos, jogando com as cores da franja para obter efeitos visuais em túnicas, tops e saias. Emaranhados de fios metálicos de diferentes texturas confundem-se com fios de seda em composições artísticas que aproveitam vários materiais de sobras. Em tons de prata e ouro, compõem-se manualmente entrançados de volume, numa verdadeira miscelânea de ninhos de fios e cruzamentos de fechos, peças metálicas, correntes e botões. Uma boneca espantalho pintou-se de tons preciosos, fazendo nascer uma “Chica Trash Doll”.
Napas prata jogam também com emaranhados de fechos e correntes em aberturas estratégicas, em calças e vestidos. Peças mais básicas fazem contraste de texturas opostas, aparecendo em chiffons ou organzas, em tons de coral e lilás, em combinação com malhas, ou em camisolas de gola alta e tops de tons verde e rosa, a contrastar com malhas metálicas. Sedas estampadas de nuances verdete e roxo vestem silhuetas fluidas de movimento, acompanhadas por acessórios em “patchworks” de peles. Os pretos negros ganham vida pelas texturas, jogando com blocos de cor em roxos, azuis e rosas. A explosão da cor em experimentação… O trabalho mágico de construções de cor em geometrias e miscelâneas. Os azuis petróleo unem-se aos verdes, beringelas e cinzentos e os rosas são acolhidos por vermelhos, laranjas, roxos, pretos e tons coral. As pratas fundem nos bronzes, ouro e chumbo. Uma fusão de tons, que mistura os tons do lixo do latão e das ferrugens de um ferro velho. A paixão pelos trapos invadiu-me agora, mais que nunca… “My trash trash me!”
CV
Rita Bonaparte conclui a sua formação em Design de Moda no IADE em 1999, ano em que efectuou um estágio intensivo na Paris American Academy. Passou também, enquanto estagiária, pelo atelier de Fátima Lopes e, posteriormente, de Ana Salazar, onde permaneceu durante dois anos. Em 2001, representou Portugal na Bienal de Sarajevo, no seguimento do 1º Prémio que obteve por duas vezes consecutivas no Concurso Jovens Criadores. Está presente no Portugal Fashion desde 2002, onde apresenta também, desde 2006, as colecções de calçado que desenvolve para a marca DKODE. Rita Bonaparte tem vindo a destacar-se na criação de fardamentos, com trabalhos desenvolvidos para o Instituto Nacional de Formação Turística, para a Sagres, bem como para os gestores dinamizadores do Programa Farol, promovido nas autarquias de todo o país.
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RITA BONAPARTE
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